CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS
8a. Assembléia e Cinqüentenário

PRESS RELEASE
Comunicado de Imprensa No. 24
11 de dezembro de 1998

Oficina de Comunicação do Conselho Mundial de Igrejas
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BAIANOS LEVAM MACULELÊ PARA HARARE

Dois jovens baianos foram atores de um intercâmbio que jamais imaginaram pudesse acontecer. Claudionor Santos de Brito, 20 anos, e Márcia Silva Pereira, 18, professores de capoeira e danças afro, ensinaram, durante dois meses, o maculelê, a puxada de rede e o navio negreiro para 120 ex-crianças de rua, hoje residentes no Centro Mbuza Nehanda, ligado à Igreja Presbiteriana, em Harare.

"Meu sonho sempre foi trabalhar com criança de rua em Salvador. Aliás, esse é o sonho de todo capoeirista. Da meninada da rua saem os melhores capoeiristas", conta Claudionor. Ele ainda não conseguiu realizar esse sonho em Salvador, Bahia, mas já o concretizou em Harare. E teve que admitir: "Treinar com mais de 100 crianças que só sabem falar o inglês e o shona não foi fácil". Depois de quase dois meses de convivência com a meninada, os professores baianos aprenderam algumas palavras em inglês, vocabulário suficiente para ministrar as aulas.

Claudionor e Márcia trabalham há cinco anos com o padre católico Colin McLean, na Comunidade Nova Constituinte, em Salvador. Há um ano, participaram com o Grupo Cultural Palmares, que eles orientam, num seminário sobre infância e adolescência, na capital baiana. A apresentação foi vista por uma representante do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que formulou o convite, então, para que viessem ensinar capoeira e danças afro para ex-crianças de rua em Harare, capital do Zimbábue.

"Primeiro fiquei preocupado com o imperialismo cultural que isso poderia significar", admite o padre Colin, que acompanhou os jovens professores baianos a Harare. "Mas não, foi uma experiência muito rica. Eles simplesmente trouxeram a dança baiana para a casa de origem", relata. A garotada de Harare se identificou tanto com os professores brasileiros que resolveu criar um grupo de dança, batizado com o mesmo nome do grupo baiano.

O Grupo Cultural Palmares de Harare apresentou-se para cristãos de 120 países, reunidos no campus universitário da capital do Zimbábue para a 8a. Assembléia do CMI. No campus, Claudionor e Márcia logo encontraram capoeiristas do Rio de Janeiro, que também vieram se apresentar na Assembléia, acompanhando o sociólogo Rubem César Fernandes, do movimento Viva-Rio.

A troca de impressões sobre a primeira grande viagem, de travessia do Altântico, correu solta na roda formada por cariocas e baianos. "Quando o avião começou a subir, eu me segurei na cadeira com toda a força", admite Claudionor sem receio de ser gozado pelos colegas. Walson Luis, Michele Santos e Flávio Soares, capoeiristas que participam do Serviço Social Voluntário, do Viva-Rio, contam as emoções dos preparativos que antecederam a viagem e comentam perspectivas para o futuro.

Mesmo com todo esse sucesso em Harare, Claudionor e Márcia já demonstravam saudades do Brasil, para onde regressam hoje à querida Salvador. Depois dessa experiência internacional, os dois vão continuar trabalhando com o Cultural Palmares baiano. Mas Claudionor tem um objetivo a mais: ele quer ajudar sua mãe, num reconhecimento e retribuição por ela ter pago a academia onde aprimorou as técnicas da capoeira e conseguiu um bom preparo físico. Ele não sabe, porém, como vai conseguir conciliar trabalho, capoeira e estudo. "Vida de baiano é meio complicada", diz ele para os colegas capoeiristas. Mas esse é um problema que ele precisa resolver somente no próximo ano.

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