CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS
8a. Assembléia e Cinqüentenário

PRESS RELEASE
Comunicado de Imprensa No. 19
10 de dezembro de 1998

Oficina de Comunicação do Conselho Mundial de Igrejas
50, route de Ferney PO Box 2100, 1211 Geneva 2 Switzerland


"CRENTE VOTA EM CRENTE" PERDE APELO POPULAR

O clássico apelo evangélico "crente vota em crente", ou voto de rebanho, está perdendo consistência no mundo pentecostal, ao contrário do que se verifica entres os neopentecostais, de modo especial na Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). "Seus fiéis ainda votam em candidatos indicados pelos líderes pastorais da igreja. Nas últimas eleições, eu mesmo vi urnas eletrônicas instaladas em templos da Universal, nas quais os pastores `ensinavam´ o povo a votar nos candidatos da igreja. Com tais mecanismos de coerção, a IURD elegeu vários deputados estaduais e federais".

A análise é do pastor luterano Oneide Bobsin, professor na área de Ciências da Religião na Escola Superior de Teologia (EST), em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Em "padare" - palavra do idioma shona que significa reunião informal - durante a 8a. Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), reunido de 3 a 14 de dezembro em Harare, capital do Zimbábue, Oneide trouxe "aspectos políticos e culturais do pentecostalismo no Brasil". Já a liderança de igrejas pentecostais, como a Assembléia de Deus (a maior delas) e O Brasil para Cristo, determinam cada vez menos em quem os fiéis devem votar, observou.

Cresce, assim, o descompasso entre as lideranças pastorais de cúpula, que tendem a ser mais conservadoras, e as bases, onde se fortalece, no plano individual, a liberdade de decisão pessoal no campo político-eleitoral. "Os fiéis parecem ser mais livres para opções mais à esquerda que os líderes pastorais", diz o professor da EST. Até os anos 60, o pentecostalismo, que foi trazido dos Estados Unidos ao Brasil em 1910, tinha um discurso de não-participação política, e de obediência irrestrita à autoridade. Durante o regime militar constata-se um vazio, e após 1985, com a democratização, os pentecostais descobrem a política como um meio de se inserirem na sociedade.

Depois que as igrejas pentecostais, como a Assembléia de Deus, buscaram sua institucionalização, e com a abertura política, o crente dessas denominações angariou autonomia de decisão no campo sócio-político. "Tem áreas da vida que essas igrejas não determinam mais como se posicionar", analisa o professor. Essa mesma autonomia está menos presente, porém, nas igrejas neopentecostais. Uma pesquisa do Instituto de Estudos da Religião (ISER) entre pentecostais do Rio de Janeiro, em 1996, mostra que 56% dos neopentecostais votaram nos candidatos indicados pelos pastores.

O professor da EST faz ainda outras leituras do mundo crente. "A participação política e um possível envolvimento ecumênico com os diferentes grupos pentecostais passa, em primeiro lugar, pela luta individual ou coletiva por melhores condições de vida", assinala. Num mundo globalizado, no qual crescem o desemprego e o trabalho informal, a ética protestante, tão marcante no protestantismo histórico, parece não ter mais importância. "Em seu lugar ganha corpo uma religiosidade neopentecostal, que privilegia os aspectos mágicos da religião".

Oneide admite, no entanto, que numa sociedade de exclusão e exploração acentuada, como acontece no Brasil, "a religião se transforma num meio de sobrevivência. Ela não somente recria o sentido da vida, como também permite um mínimo de dignidade, embora subordinada à lógica da exclusão".

Contacte: John Newbury, Imprensa & Informação do CMI
Oficina de Harare
Tel: +263.91.23.23.81
E-Mail: media


O Conselho Mundial de Igrejas é uma fraternidade de igrejas que reúne 339 denominações, de diferentes tradições cristãs, em mais de 100 países, nos cinco continentes. A Igreja Católica Romana não é membro do CMI, mas trabalha de modo cooperado com o Conselho. Seu órgão decisório máximo é a Assembléia, que se reúne a cada sete anos. O CMI foi fundado, formalmente, em 1948, em Amsterdã. Seu staff é liderado pelo secretário-geral, pastor Konrad Raiser, da Igreja Evangélica da Alemanha.


A lista dos press releases
8a. Assembléia e Cinqüentenário em espanhol