CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS
8a. Assembléia e Cinqüentenário

PRESS RELEASE
Comunicado de Imprensa No. 12
8 de dezembro de 1998

Oficina de Comunicação do Conselho Mundial de Igrejas
50, route de Ferney PO Box 2100, 1211 Geneva 2 Switzerland


"FEMINIZAÇÃO DA POBREZA" AVANÇA SOBRE O PLANETA

"Os cristãos do mundo assistem passivamente a implantação de sistemas econômicos similares à torre de Babel, representada pelo Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e o mercado livre, baseados na injustiça, no orgulho e na dominação", denunciou a pastora Biasima Lala, da Igreja de Cristo do Congo. Ao falar para os mais de 900 delegados e delegadas de igrejas protestantes, ortodoxas e anglicanas reunidas na 8a. Assembléia Geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), em Harare, a pastora apontou para a "feminização da pobreza" em todas as partes do planeta.

Nos países em desenvolvimento, relatou Biasima, mulheres sofrem um duplo flagelo em conseqüência da crise econômica. "Primeiro, como mulheres pobres e sem acesso à educação, e segundo, como esposas de maridos a quem o desemprego e a crônica falta de recursos os obrigam não raro a se transferir em busca de um emprego sempre hipotético. As mulheres são forçadas a carregar sozinhas o peso da sobrevivência do lar, muitas vezes em prejuízo da saúde", arrolou.

Mulheres de todas as partes do mundo começam a romper a "cultura do silêncio", adentrando também os subterrâneos das próprias igrejas. "Muitos homens e mulheres da comunidade eclesiástica ficam horrorizados quando contamos nossas experiências de racismo dentro da igreja", disse Mukami McCrum, da Igreja do Quênia, lembrando que a maneira mais insidiosa de racismo é a "exclusão e a invisibilidade".

Na Índia, mulheres chegam a sofrer tripla discriminação: por serem pobres, dalits (da casta mais baixa) e pela condição de gênero, numa interrelação de classe, casta e sexo, relatou o reverendo Deenabandhu Manchala, da Igreja indiana. "Essas culturas de opressão penetraram a tal ponto na consciência das vítimas que elas aceitam a violência como algo inevitável", disse.

Esse é um dos motivos que eleva o país ao topo nos índices de violência contra a mulher. A cada ano, 15 mil mulheres são violentadas e outro tanto raptado ou seqüestrado; 7 mil noivas são assassinadas por não conseguirem juntar o dote requerido; 30 mil mulheres são torturadas e outras 30 mil sofrem abusos; 15 mil são envolvidas no tráfico da prostituição. "Desgraçadamente, muitos cristãos entendem ainda hoje que a responsabilidade de salvaguardar as tradições da igreja institucional é um imperativo mais forte que a fome e a sede de paz e justiça", destacou Manchala.

Precedendo a 8a. Assembléia, 1.100 mulheres das 332 igrejas filiadas ao CMI, reuniram-se num Festival, dias 27 a 30 de novembro, marcando o encerramento da Década de Solidariedade das Igrejas com as Mulheres. A Década ajudou a romper essa "cultura do silêncio", e trabalhou questões da violência, racismo, participação feminina na vida das igrejas e justiça econômica.

Documento da Década encaminhado à Assembléia apresenta propostas às igrejas contemplando aqueles temas. A reverenda Bertrice Wood, da Igreja Unida de Cristo, dos Estados Unidos, e uma das coordenadoras do Festival, entende que o programa da Década ficou incompleto, e que as igrejas devem continuar construindo ações sobre as conquistas das mulheres nesses últmos dez anos.

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O Conselho Mundial de Igrejas é uma fraternidade de igrejas que reúne 332 denominações, de diferentes tradições cristãs, em mais de 100 países, nos cinco continentes. A Igreja Católica Romana não é membro do CMI, mas trabalha de modo cooperado com o Conselho. Seu órgão decisório máximo é a Assembléia, que se reúne a cada sete anos. O CMI foi fundado, formalmente, em 1948, em Amsterdã. Seu staff é liderado pelo secretário-geral, pastor Konrad Raiser, da Igreja Evangélica da Alemanha.


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